Abra o Apetite com a Série Hannibal 18+
Hey People, hoje vamos fazer uma matéria incrível sobre uma das melhores séries da atualidade: Hannibal. Vamos lá?
Hannibal é uma série americana de terror psicológico,
suspense e drama policial inspirada nos livros “Dragão Vermelho” e “Hannibal”
escritos por Thomas Harris. A aclamada série foi idealizada por Bryan Fuller
com David Slade como produtor executivo e desenvolvida pela NBC. Os atores
principais são Hugh Dancy e Mads Mikkelsen dividindo o protagonismo da série,
que ainda conta com a participação de Caroline Dhavernas e Lawrence Fishburne.
A série possui três temporadas com 13 episódios cada.
A série está cancelada até o momento e teve seu fim anunciado em junho de 2015.
Teve ótima recepção da crítica e do público sendo ganhadora de vários prêmios.
As filmagens ocorreram sobre tudo em Toronto e Ontario no Canadá e na bela
Florença na Itália.
Bon
appétit
Esta é uma daquelas séries tão boas que ganharam logo
o status de cult e essa com certeza
merece isso. Hannibal é considerada uma das melhores séries do seu gênero e
também é considerada como uma das melhores séries de todos os tempos. Essa
série sem dúvida não deve ser assistida por pessoas sensíveis, vegetarianas,
veganas, protetoras dos animais ou coisas do gênero, pois no mínimo vão se
sentir desconfortáveis. Vale lembrar que a classificação indicativa de Hannibal
é para maiores de 18 anos justamente por conta de suas imagens fortes.
Nessa matéria
iremos falar um pouco sobre essa psicológica e sombria série que conquistou
tantos fãs, mas tenha cuidado e se comporte educadamente, pois o anfitrião não
gosta de pessoas rudes. Ele tende a expandir o paladar com elas. Vamos então
explorar o mundo da série Hannibal ao som de Bach e saborear o seu enredo. Bon Apepétit!
Entrée
A série conta a história do analista de perfis
psicológicos do FBI Will Graham que possui um distúrbio de empatia, o que lhe
confere uma imaginação ímpar. Ele pode reconstituir como um assassinato foi feito
e no que o assassino estava pensando assim como os seus motivos para aquilo.
Sua inteligência peculiar talvez faz com que sua mente seja instável o que
contribui para o seu medo de que com o habito de pensar como um assassino faça
ele se transformar em um.
No entanto, depois de algum tempo afastado do trabalho
em campo por motivo dessa mesma instabilidade, Will Graham foi contatado pelo
Agente Jack Crowford do FBI para ajudá-lo a prender um assassino de jovens
moças conhecido como o Picanço de Minnesota, e para monitorar a saúde mental de
Will, Jack Crowford convida o ex-cirurgião e brilhante psiquiatra Dr. Hannibal
Lecter enquanto Will tenta traçar o perfil psicológico do Picanço de Minnesota.
Depois disso, Will se aproxima cada vez mais da
captura do assassino, mas outras mortes mais bizarras começam a acontecer
enquanto sua terapia com o Dr. Lecter progride. E as coisas terminam se
mostrando mais macabras a cada dia as coisas começam a se esvair da mente de
Will.
Antipasto
É claro que não dá para examinar essa complexa série
sem falar um pouco antes das mídias que lhe antecederam. São elas: “Hannibal – A Origem do Mal” (2007), “Dragão Vermelho” (2002), “Caçador de Assassinos” (1986), “O Silencio dos Inocentes” (1991) e “Hannibal” (2001) cronologicamente. No
cinema a mais notória interpretação do vilão foi feita pelo grande ator Anthony
Hopkins que chegou a ganhar um Oscar pelo papel em 1992.
O Hannibal de Hopkins era muito assustador e tinha um
ar sombrio e inteligente. Hopkins tem um jeito peculiar de deixar as coisas
assustadoras. A atuação única dele que aparece no filme “O Ritual” de 2011 me lembrou bastante dos tempos de criança com
medo de Hannibal. Ele tinha algo no olhar e uma veia maléfica incontestável.
Tanto que os filmes sobre os livros de Thomas Harris ganharam prêmios
importantes, mas apenas aqueles que tiveram Anthony Hopkins no elenco e
produção.
Existem muitas similaridades na série que remetem aos
filmes. Claro que isso se dá a boa fidelidades que ambos possuem com os livros,
mesmo com tantos conceitos adaptados. O que me vem logo a memória é a cena de
Hannibal e Rinaldo Pazzi em Florença que são muito iguais.
Dentre todas as adaptações cinematográficas a minha
favorita é “O Silencio dos Inocentes”,
que nos banha em suspense, tensão e adrenalina enquanto demostra o bom gosto do
Dr. Lecter (exceto para escolha de carne). O filme “O Dragão Vermelho” dirigido Brett Ratner também é muito bom, mas
eu pessoalmente não simpatizo muito com a história de Dolarhyde. Apesar disso,
grande parte da série é inspirada em Dragão Vermelho e até apresenta Francis na
conclusão da terceira temporada.
O único dos filmes que fica fora do cânone oficial da
série é “Caçador de Assassinos”
dirigido por Michael Mann. Além de ser considerado por muitos o menos relevante
da franquia. Enquanto Dragão Vermelho e O Silencio dos Inocentes encabeçam
juntos como os melhores.
Existem muitas diferenças no enredo entre as obras é
claro. Algumas mais significativas do que outras, mas na minha opinião ambas
são excelentes. Algumas para notar de cara são o caso de Freddie Lounds que na
série virou mulher e de que Clarice Starling não apareceu na série. Pelo mens
não até agora e muito de sua participação foi atrelada a Will Graham. A relação
do Dr. Lecter com Clarice ainda não foi explorada na série, e talvez ainda seja
num possível retorno da série.
Savoureux
Os atores são maravilhosos. A atuação de Mads
Mikkelsen é simplesmente soberba. Ele fica muito à vontade no personagem e sua
atuação é impecável. Parece que ele quase esquece que está atuando. Eu
pessoalmente prefiro muito mais o Hannibal da série do que dos filmes, com todo
o respeito ao grande Anthony Hopkins, mas o Hannibal de Mikkelsen é o melhor.
Ele entrega um personagem tão profundo e misterioso que quase nunca dá para
saber o que ele está pensando. Não podemos mesmo saber quando ele está mentindo
ou fingindo, ou quando realmente está demonstrando uma emoção e empatia. O seu
ar fino e elegante só contrasta com os momentos em que ele precisa ser cruel e
sádico com as suas vítimas, ou mesmo para se defender e manter sua identidade
de assassino oculta.
Hugh Dancy como Will Graham é outra joia nessa série.
É até difícil descrever a excelência e profundidade desse personagem. Por vezes
apático e distante, desligado de tudo, mas em outros momentos tão inteligente e
calculista. Instável, sempre em mudança. Remexido por dentro devido as emoções
que passou durante os eventos.
Aliás, todos os atores são ótimos, eles entregam um
trabalho de primeira, quer sejam de personagens recorrentes, quer sejam
figurantes de aparições relâmpago. O roteiro os inclui de forma inteligente,
polida e completa. Fica evidente que cada um deles possuem muitas camadas a
serem exploradas com personalidades verossímeis, mesmo que não vejamos a
totalidade deles em cena, como uma pessoa real que conhecemos a pouco tempo.
O nosso querido Laurence Fishburne tão conhecido por
ter interpretado Morpheus na trilogia “Matrix”
nunca deixa a desejar com sua centralidade e competência. Tê-lo no elenco fez
muito bem para a história. As únicas ressalvas vão para Lara Jean Chorostecki
que interpreta a jornalista de tabloide Freddie Lounds assim como para Richard
Armitage que interpretou o antagonista Francis Dolarhyde. Eu achei os dois um tanto
antipáticos e com pouco apelo. O espectador não consegue se conectar com eles
por suas personalidades. Isso tem mais a ver com os personagens em si do que
com a performance dos atores, mas mesmo assim são ressalvas.
A trilha sonora é outro deleite. Foram usadas
composições de Bach, Beethoven, entre outros renomados compositores de música
clássica. Outras músicas eruditas tocadas em instrumentos menos recorrentes
como cravo e teremim aparecem as vezes. A música é uma presença de grande
estima nessa série. Os sentimentos que ela gera e rege e até as suas vias
poderosas sobre o nosso cérebro e mente são enfatizadas. Na primeira temporada,
no episódio 7, existe um momento em que isso é mostrado bem claramente. A
música entrando em nossos ouvidos e o que ela move em nosso interior.
Outro detalhe é em um dos assassinatos que ocorrem na
série, em que um homem tem sua garganta aberta e exposta com um braço de
violoncelo colocado em sua boca de forma que as cordas vocais pudessem ser
tocadas com o arco do instrumento. Sem dúvida bem evocativo.
Além das músicas clássicas tocadas na série, também é
bem comum ouvir aqueles sons incômodos de filmes de terror tocados naquele
instrumento chamado Waterphone que
faz sons bizarros que dão medo. Tudo para contribuir com o clima pesado e
incomodo dos momentos mais tensos dos episódios.
A história é muito bem escrita e construída. Porém, a
loucura excêntrica de Anthony Hopkins nos filmes era mais familiar aos livros
do que a calma elegante e refinada de Mikkelsen que se parece mais com Hannibal
no último livro do que no momento em que Will capturou o assassino conhecido
como o Picanço de Minnesota. É claro que adaptações precisar ser feitas para a
série funcionar, e o início da relação entre Will e o Dr. Lecter foi explorada
de forma diferente na série. O próprio Will é diferente em certos aspectos e
essas coisas devem ser levadas em consideração na hora de analisar e criticar.
A adaptação da obra original é uma das mais
discrepantes que eu já vi até hoje. Bem diferente do que existe nos livros, mas
eu ainda amo essa série por sua qualidade e tudo. É claro que devesse tomar a
série e os livros como histórias diferentes. Assim se pode curtir e aproveitar
os dois sem ter que ignorar um ou jogar o outro no lixo.
Como eu já apontei acima, Hannibal não é para qualquer
pessoa. A TV aberta não está preparada para o horror explicito em Hannibal. E
mesmo eu tive um certo receio de postar algumas fotos da série aqui nessa
matéria por conta de sua morbidez. No entanto, essa série é muito boa. Em todos
os episódios em aprendi alguma coisa nova sobre alguma outra coisa, e sobre os
mais diversos assuntos. Desde coisas simples até conceitos filosóficos e
psicológicos muito inteligentes.
Existe uma beleza nos diálogos da série. A carga que
eles carregam é visível o espectador consegue ver nas entrelinhas o que cada um
está querendo realmente dizer em certos diálogos entre os personagens. Alguns deles
podem parecer confusos e sem sentido para algumas pessoas. Podem parecer
desconexos com metáforas estranhas a primeira vista. Mas, basta um olhar mais
atento para chegar ao conceito que eles querem abordar. Claro que nem todos são
assim. Esses mais profundos são quase sempre em sessões de consulta
psiquiátrica ou entre os personagens mais inteligentes (o que não falta nessa
série).
Para pessoas que gostem de mais ação os primeiros
episódios são um pouco parados, mas quando você começa a se familiarizar com a
trama e os personagens, você começa a se interessar e não consegue desgrudar
mais da série. A cada nova descoberta fica cada vez mais evidente o nível de
cuidado que se teve para construir o enredo. Eventos lá de traz nos primeiros
episódios tem conexão com as revelações dos episódios mais adiante.
Por tantos motivos, essa série é uma das melhores que
eu já assisti e deve estar na lista de qualquer um que goste de boas séries com
tramas inteligentes e interessantes. Se não assistiu a série Hannibal ainda,
corre pra Netflix, pois ela voltou para o catálogo de lá com a terceira
temporada incluída.
Buffet Froid
As imagens a seguir podem ser fortes para algumas pessoas
Uma das coisas mais surpreendentes em Hannibal é o seu
apelo visual sem igual. A fotografia é excelente. As cores dos ambientes são
quase sempre frias, mas são muito bonitas. Isso é claro serve para depor a
favor do clima de suspense e terror psicológico do enredo. As ambientações são
feitas em cenários ótimos. Podemos ver os personagens em locais abandonados,
florestas, laboratórios forenses do FBI, parques ou mesmo as chiques
residências nas quais Hannibal frequenta, mora ou trabalha. Tudo quase sempre
tem tons sombrios com cores frias e leves. Mas, é tudo visualmente bem
atraente.
Além dos cenários, outra coisa presente na série que
possui um grande destaque são as cenas dos crimes. Aqueles assassinatos são
expostos de maneiras surreais que quase eleva o ato de matar à arte. Vemos
corpos pendurados em ninhos de chifres de veados, ou montados como se fossem um
totem. É mórbido, mas ao mesmo tempo fascinante. Tem um toque de sofisticação
assim como de extrema crueldade no Modus
Operandi do Estripador de Chesapeak que assombra os sonhos dos personagens.
O modo como cada corpo era exposto tinha algum
significado intrincado com conceitos psicológicos que eram elucidados pela
mente de Will nas cenas dos crimes. Demonstravam os aspectos da mente dos
assassinos e os seus motivos para cometer tais atrocidades. Podiam ter coisas a
ver com a pessoa morta ou com a personalidade do próprio assassino como o
muralista do Olho de Deus que dispôs
vários corpos de cores diferentes de modo que quem olhasse de cima veria o
formato de um grande olho.
No caso dos assassinatos do Estripador de Chesapeak
(que na verdade era o Dr. Lecter), ele geralmente expunha suas vítimas de
acordo com o que ele achava delas como no caso do Homem Arvore que era um político corrupto que tinha propostas ruins
para o meio ambiente. O estripador o fundiu com as ramas de uma arvore e o
colocou num estacionamento que antes era uma área verde desmatada a mando desse
politico e substituiu os seus intestinos por flores venenosas, a fim de mostrar
que aquela pessoa era venenosa como aquelas flores e este foi o motivo de sua
morte. Afinal, Hannibal não gosta de pessoas deselegantes.
As imagens são lindas e se não fosse pelos
assassinatos, diria que são obras de arte. É claro que é apenas ficção e
ninguém morreu de verdade. A maior parte das vezes deve apenas se tratar de
bonecos e não dos atores. O que essas “exposições” querem mostrar na verdade é
o quão distorcida a mente humana pode se tornar e o desprezo pela vida que os
psicopatas tem.
Outros casos mostram distúrbios mentais poderosos ou condições
psicológicas provenientes de doenças que levam as pessoas ao desespero e à
loucura. Esses “anjos”
foram feitos por um homem que descobriu ter um tumor no cérebro e que este terminaria por mata-lo. Então, o seu medo da morte foi tão extremo que ele fez esse casal de anjos para velar por seu sono.
foram feitos por um homem que descobriu ter um tumor no cérebro e que este terminaria por mata-lo. Então, o seu medo da morte foi tão extremo que ele fez esse casal de anjos para velar por seu sono.
O primeiro desafio de Will Graham e do FBI foi prender
o Picanço de Minnesota. Ele assim como o estripador de Chesapeak colhia troféus
cirúrgicos provavelmente para comer. Ele costumava raptar moças jovens sempre
com o mesmo perfil para come-las, mas seu padrão foi descoberto e ele terminou
sendo pego. A morte dele mexeu muito com Will e ditou grande parte do enredo
dali para frente. Picanço vem a ser um pássaro de poleiro que mata suas presas
e as empela em galhos de arvore, retira seus órgãos e os esconde para comer
depois assim como o assassino.
bande de goût
Talvez o mais horrível e perturbador de tudo isso seja
o fato de que alguns desses assassinos e expositores de corpos levavam algum
órgão do cadáver para comer. O canibalismo é tão malvisto em nossa sociedade,
mas bizarramente aceito em outras ao longo da história. Em alguns povos
antropófagos, acreditava-se que ao comer a carne de um inimigo você adquiriria
as habilidades dele assim como sua força. Imagino que os olhos fossem bem
cobiçados, pois para um guerreiro, ter a visão como a do seu inimigo deve ser
uma grande vantagem.
Para muitas culturas, o que você come termina por
incorporar no que você. Aquilo se torna parte de você para sempre, e isso é
verdade de certa forma. Você é o que você come. Existiu um estudo para
determinar o quão poderosa era essa questão e eu li certa vez uma história de
um jovem que sempre comia miolos de boi preparado por sua mãe em casa. O que
ocorrera, era que aquele rapaz tinha sempre o mesmo pesadelo. Nele, ele via sua
mãe desmembrada e sendo devorada por outras pessoas.
Logo ele começou a se questionar sobre aquilo e
percebeu que o sonho não fazia sentido de uma perspectiva humana, mas sim de um
bezerro que vira sua mãe, a vaca ser morta e servir de alimento para as
pessoas. Será que de alguma forma ele absorveu as memórias do boi e vivenciou
em trauma da infância do animal? Sabemos que os animais possuem memoria
biológica e que algumas coisas que eles fazem não lhes foram ensinadas pelos
pais ou pela observação, mas eles simplesmente sabem. Isso é o que chamamos de
memória biológica que são informações que são passadas no DNA a cada geração.
Se realmente absorvermos informação da comida, pelo
menos uma pessoa seria boa para se servir na minha opinião: Albert Einstein.
Infelizmente ele já faleceu e não poderíamos servi-lo na caçarola. Brincadeiras
à parte, existe em Hannibal uma questão psicológica profunda para que ele tenha
interesse em comer carne humana.
Psicologicamente falando, existe uma dominação em
comer carne humana. Um senso de controle e domínio sobre o outro. Superioridade
e talvez até um certo desdém. É difícil imaginar o que leva alguns assassinos
psicopatas a comerem partes de suas vítimas. No caso de Hannibal, ele não
considera o que faz como canibalismo. Canibalismo implicaria que a pessoa a ser
degustada e ele são iguais, todavia, ele só o faz quando considera a pessoa
como uma porca. Ou seja, nada mais do que carne. Outro caso o qual eu não entendi
muito bem o motivo, é que as vezes ele come pessoas que ele considera serem tão
elevadas quanto ele.
Dr. Bedelia Du Maurier tem sua perna
esquerda servida a si mesma
A questão com Hannibal é bem mais profunda, pois além de gostar de comer carne humana, ele fez de forma sofisticada e as prepara em deliciosas receitas finas. Além disso, ele não gosta apenas de comer, ele gosta de ver os outros comerem também. A ideia de comer a carne humana é horrenda e desumana. É incomodo demais somente pensar em tal coisa. Logo, eu não jantaria na casa do Dr. Lecter, pois a procedência da carne não é do meu paladar.
Gourmet
Entretanto, nem tudo é tão horrível na cozinha do Dr.
Lecter. As receitas que ele faz são de dar agua na boca, pois não estão presas
a necessidade de se usar carne humana. A maioria delas são tão requintadas e de
tão bom gosto que até abre o apetite. De fato, tem algumas que eu não provaria
como uma que se chama sombria, que é um passarinho afogado vivo em armagnac e
depois assado. Ele deve ser comido inteiro numa bocada só com ossos, bico e
tudo. É um prato pra lá de sádico.
Mas, para quem come bife a rolê feito com a carne das costas de alguém,
preparar uma sombria não deve ser nada.
É claro que o passarinho em questão está em extinção e
é um dos pratos que carregam a fama de tabu e crueldade com os animais. No
entanto, existem outros pratos excelentes que realmente parecem ser ótimos.
Tais como: Tartare de coração, Ossobuco ao vinho, torta de carne e fígado, carne
de Wagyu assada entre outras que parecem ser deliciosas.
A cada maravilhoso prato minuciosamente preparado, o
bom gosto do Dr. Lecter fica mais e mais evidente. Ele apresenta tudo de forma tão
elegante. Ele também faz comentários filosóficos a respeito dos pratos que
prepara e do ato de se alimentar em si. Ou comentários sarcásticos de como os
“coelhos” deviam ter corrido mais rápido para não virarem o jantar.
Com certeza nos instiga a tentar elevar a qualidade da
comida que comemos, sem a carne humana, é claro. Segundo Hannibal, ele toma
muito cuidado com o que ele come, por isso insiste em preparar a própria
comida. O valor nutricional é importante, claro e o sabor ainda mais. Deguste com moderação.
Tirando a parte mórbida, é muito bacana ver que a cada
episódio vemos um prato diferente em cena. A primeira temporada apresentou mais
pratos franceses, a segunda trouxe a culinária japonesa e a terceira vimos a
excelente comida italiana. E isso pode ser notado bem nos nomes dos episódios
de cada temporada. E mesmo com os nossos semelhantes sendo servidos, eles todos
dão água na boca.
Para causar esse efeito nos espectadores, os
produtores convidaram dois grandes nomes para auxílio e consultoria sobre os
pratos servidos por Hannibal. O primeiro foi o renomado chef italiano José
Andrés que possui vários restaurantes ao redor dos Estados Unidos e também
Janice Poon que é uma Food Stylist.
Ela faz a apresentação tanto dos pratos quanto da mesa e deixou tudo muito
bonito e saboroso de se ver.
Claro que quase ninguém além de Mads Mikkelsen
realmente come durante as filmagens, pois os pratos e ornamentos são só para as
cenas. O que realmente deve ser uma pena. Além disso, as tomadas em que
Hannibal utiliza carne humana em suas pecaminosas receitas é na verdade carne
de porco, por ela ser muito parecida com a nossa e além disso os atores podem
comer de verdade.
Dessert
Uma coisa sem dúvida presente em Hannibal são os temas
profundamente enraizados em psicologia. Os motivos de Will ver um veado em sua
imaginação por exemplo que pode estar sujeito a tantas interpretações
diferentes, mostra o cuidado ao elaborar os elementos da série nesse sentido.
O veado é um símbolo divino ligado a vida e as
arvores. É um mediador entre a luz, o sol e o homem. É um animal silencioso e
gentil na maior parte do tempo. Simbolizam também liberdade e abundancia
reverenciados em muitas culturas. Na série, Garret Jacob Hobbs via suas vítimas
como caça, de uma certa forma. Por isso ele as honrava e aproveitava cada parte
de seus corpos, ou como ele pensava, seria apenas assassinato.
Depois de encontrar o corpo de Cassie Boyle empalada
numa cabeça de veado empalhada com corvos em cima, Will passou a associar essa
figura com o imitador, um cervo negro com penas de corvo. O imitador também era
o estripador de Chesapeak, que no fim era Hannibal. Por isso seu subconsciente
estava lhe dizendo algo do qual ele estava em negação, de que na verdade ele
sabia quem na verdade era o verdadeiro responsável por aquelas mortes.
Depois disso, Will passou a ver o que chamamos de Wendigo. Uma figura perturbadora de um
homem magro com chifres de veado totalmente negro, não etnicamente, mas negro
como breu. O veado na série também é representado como uma conexão entre Will e
Hannibal. É por isso que vemos ele ferido no episódio Mizumono, para voltar depois "remendada" em Primavera, quando
Will e Hannibal estão voltando a se conectar. Vemos alguns Easter Eggs como a estátua de um veado
no consultório de Hannibal, com a qual ele mata Thobias, diga-se.
O Wendigo é um mostro da mitologia nativo-americana
que tinha a dieta de carne humana. Segundo a Wikipédia, "O Wendigo é formado a partir de um
humano qualquer, que passou muita fome durante um inverno rigoroso, e para se
alimentar, comeu seus próprios companheiros. Após perpetuar atos canibais por
muito tempo, acaba se tornando este monstro e ganha muitos atributos para caçar
e se alimentar". Bem familiar com Hannibal, não acha?
A forte influência de Hannibal sobre
Will e sua persuasão sobre ele vão fazendo Will se enxergar cada vez mais
parecido com Hannibal e em sua imaginação começam a surgir chifres nele, como
se ele estivesse também se transformando em um Wendigo. Isso é visto
principalmente quando Will toma decisões que antes ele só atribuiria à
Hannibal, ou ao estripador de Chesapeak.
O trauma de Will com tudo o que ele
passou com o caso do Picanço de Minnesota o traumatizou profundamente e começou
a “transformá-lo” interiormente. No final da segunda temporada, vemos o último
suspiro do veado que Will via e isso simboliza o termino dessa relação com
Hannibal e das similaridades entre eles. Will agora se desvencilhou da imagem
de monstro construída sobre si mesmo e partiu em busca do verdadeiro monstro
como fizera no início, antes de estar conectado a ele.
Ainda sobre essa questão psicológica, fica muito
difícil determinar como funcionam as mentes de Will e Hannibal. Eles são muito
diferentes, mas igualmente similares em outros aspectos. Não é possível
atribuir certos problemas mentais a eles, uma vez que eles não apresentam todos
os sintomas comuns desses distúrbios.
A curiosidade de Hannibal em empurrar certas decisões
aos seus pacientes mostra o interesse dele no que acontecerá a seguir. Ele os
influencia apenas com a persuasão na maior parte das vezes. Ele muitas vezes
parece não demonstrar empatia alguma. Não possui também remorso das coisas que
faz, mas em absoluto não se pode chama-lo de louco, ao menos não no sentido
psiquiátrico.
Ele é atraído por áreas de medicina e psiquiatria,
pois tais conferem poder sobre as pessoas. É difícil determinar se algo em sua
infância o levou a ser como ele é. Ou se isso se deve ao fato de sua mente ser
peculiar por natureza, sem ter tido influência de agentes externos para fazer
ele ver o mundo daquela forma.
O caso de Will é tão enigmático quanto o de Hannibal.
Seu distúrbio de empatia faz com ele consiga pensar como os assassinos que
procura. Aliás, ele consegue empatizar com qualquer pessoa. Ele é o extremo
oposto de Hannibal nesse sentido, que pode assistir uma pessoa agonizar e
morrer sem fazer absolutamente nada apenas para poder ter a chance de ver o
processo de morte acontecer. E caso ajude a pessoa, não é por motivos de moral,
nobreza ou por ter cedido ao instinto humano de responder a vulnerabilidade do
outro. Na verdade, é difícil determinar o porquê ele faz as coisas. Sempre vai haver um motivo muito diferente do
que se imagina.
Hannibal parece não enxergar algumas pessoas nada mais
como material. Que seja para a arte, ou para a culinária. Durante sua juventude
em Florença, ele assassinou um casal e dispôs seus corpos na caçamba de uma
caminhonete exatamente como o quadro Primavera
de Sandro Botticelli. Ele ia até a galeria Uffizi todos os dias tentar
reproduzir em desenho o quadro, mas ao que parece nunca ficou satisfeito, até
que o representou em carne.
Primavera de Botticelli e a versão em carne de Il Monstro
Durante aquela época, ele ficou conhecido como Il Monstro Di Firenze (O Monstro de
Florença) por seus crimes lá. O número de pessoas que ele matou é desconhecido,
mas com certeza é exorbitante. No entanto, ele jamais demonstrou qualquer tipo
de culpa. Sua inteligência e seu bom gosto fazem com que ele se torne acima de
suspeitas. Ele sempre usa de suas manipulações para fazer os esforços da
polícia se distanciarem dele.
Registro da
Polícia italiana de Il Monstro
Ao contrário da repulsa e pavor que Hannibal provoca,
Will Graham possui uma personalidade banhada em sutilezas que ele mesmo não
compreende completamente. Quando ele entra na mente de uma pessoa, é possível
que parte do perfil que ele traçou fique impregnado em seu subconsciente. O que
ele sente é empatia pura. É claro que os dons de Will o ajudam a ver as coisas
com clareza, mas também podem prejudica-lo muito se não houver um cuidado
delicado da parte dele.
Ele faz um mergulho
mais profundo com os personagens através de um mundo insano de percepções,
questionamentos filosóficos e conflitos de personalidade em poucos instantes.
Com apenas uma análise rápida ele pode chegar ao profundo amago de uma mente
sem a necessidade da presença da pessoa ao menos. É dessa condição tão instável
e fascinante da mente única de Will que Hannibal se interessa. O modo como ele
vê as coisas que é tão diferente do próprio.
Will é sempre visto como de alguém de
certa forma estranho. Sempre evita olhar nos olhos das pessoas e procura se
isolar e não ter muitos contatos sociais. A princípio isso pode até parecer
sintomas de autismo, mas na verdade é por causa de sua empatia pura.
Ele pode se colocar no lugar dos
outros e sentir tudo o que eles sentem. Ele se sente angustiado com as coisas
que percebe. Sua empatia se mostra disfuncional quando existe uma interação
dele com o seu oposto, a psicopatia. Muitas vezes é desconfortável para Will
entrar nas mentes de criminosos, pois pensar como alguém que mata pessoas e ter
isso em sua mente não é mesmo saudável.
Com isso, a linha da moral, do que
separa o certo do errado fica cada vez mais fina mente de Will e ele se torna
cada vez mais vulnerável a sua própria percepção. Claro que a encefalite que
ele teve e os tratamentos heterodoxos do Dr. Lecter contribuíram para
desestabilizar a mente de Graham. A personalidade metamórfica de Will está
quase sempre desprendida de conceitos que ele ignora. Por isso, se o Dr, Lecter
tivesse tido êxito em fazer Will ver o mundo como ele, ou seja, empatizar
totalmente com ele, Will teria se tornado ainda mais sádico do que Hannibal.
A coisa que mais fascina do personagem de Will Graham
além de sua mente brilhante é a sua imaginação. Ele pode se desligar totalmente
da realidade e visualizar qualquer coisa. Constrói imagens perfeitas com as
quais pode interagir e sua capacidade completa de imaginação o ajuda na hora de
solucionar os crimes. Diria que sua imaginação é o colaborador perfeito para
seu distúrbio de empatia, pois os dois se completam e se ajudam de forma
perfeita.
No final, como é dito pelo Dr. Chilton na série: “Ainda não existe um nome na psicanálise
para o que é o Senhor Will Graham. ”. O mesmo é dito a respeito de Hannibal
quando ele é preso. Estes são com certeza dois dos personagens mais intrigantes
e interessantes já criados.
Grand Finale
O diretor Bryan Fuller publicou em seu Twitter que as
negociações para a quarta temporada de Hannibal estão sendo feitas. Bryan
afirmou que as gravações da quarta temporada só poderiam começar a partir de
agosto de 2018, dois anos depois do termino da terceira temporada. Porém, a produtora
Martha De Laurentiis
Os eventos da série devem ter continuidade direta com
os ocorridos na terceira temporada do show e podem ser adaptados do livro “O Silencio dos Inocentes”.
Com certeza é uma boa notícia para os fãs que viram a série ser cancelada. Isso se deu por conta da audiência no canal NBC onde era transmitida, e não por sua qualidade, uma vez que foi muito aclamada pela crítica e público.
Com certeza é uma boa notícia para os fãs que viram a série ser cancelada. Isso se deu por conta da audiência no canal NBC onde era transmitida, e não por sua qualidade, uma vez que foi muito aclamada pela crítica e público.
Fuller disse ainda que pretende fazer com que a série
passe a ser irregular. Quer dizer, seriam lançadas temporadas ano sim, ano não.
Seja como for, esperamos muito que a série retorne para podermos acompanhar os
deliciosos pratos preparados pelo Dr. Lecter e comer sem culpa.
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Escritor: Thiago de França
Escritor: Thiago de França
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