Abra o Apetite com a Série Hannibal 18+

by - setembro 10, 2018

Hey People, hoje vamos fazer uma matéria incrível sobre uma das melhores séries da atualidade: Hannibal. Vamos lá?



Hannibal é uma série americana de terror psicológico, suspense e drama policial inspirada nos livros “Dragão Vermelho” e “Hannibal” escritos por Thomas Harris. A aclamada série foi idealizada por Bryan Fuller com David Slade como produtor executivo e desenvolvida pela NBC. Os atores principais são Hugh Dancy e Mads Mikkelsen dividindo o protagonismo da série, que ainda conta com a participação de Caroline Dhavernas e Lawrence Fishburne.

A série possui três temporadas com 13 episódios cada. A série está cancelada até o momento e teve seu fim anunciado em junho de 2015. Teve ótima recepção da crítica e do público sendo ganhadora de vários prêmios. As filmagens ocorreram sobre tudo em Toronto e Ontario no Canadá e na bela Florença na Itália.

Bon appétit 


Esta é uma daquelas séries tão boas que ganharam logo o status de cult e essa com certeza merece isso. Hannibal é considerada uma das melhores séries do seu gênero e também é considerada como uma das melhores séries de todos os tempos. Essa série sem dúvida não deve ser assistida por pessoas sensíveis, vegetarianas, veganas, protetoras dos animais ou coisas do gênero, pois no mínimo vão se sentir desconfortáveis. Vale lembrar que a classificação indicativa de Hannibal é para maiores de 18 anos justamente por conta de suas imagens fortes.

 Nessa matéria iremos falar um pouco sobre essa psicológica e sombria série que conquistou tantos fãs, mas tenha cuidado e se comporte educadamente, pois o anfitrião não gosta de pessoas rudes. Ele tende a expandir o paladar com elas. Vamos então explorar o mundo da série Hannibal ao som de Bach e saborear o seu enredo. Bon Apepétit!

Entrée


A série conta a história do analista de perfis psicológicos do FBI Will Graham que possui um distúrbio de empatia, o que lhe confere uma imaginação ímpar. Ele pode reconstituir como um assassinato foi feito e no que o assassino estava pensando assim como os seus motivos para aquilo. Sua inteligência peculiar talvez faz com que sua mente seja instável o que contribui para o seu medo de que com o habito de pensar como um assassino faça ele se transformar em um.

No entanto, depois de algum tempo afastado do trabalho em campo por motivo dessa mesma instabilidade, Will Graham foi contatado pelo Agente Jack Crowford do FBI para ajudá-lo a prender um assassino de jovens moças conhecido como o Picanço de Minnesota, e para monitorar a saúde mental de Will, Jack Crowford convida o ex-cirurgião e brilhante psiquiatra Dr. Hannibal Lecter enquanto Will tenta traçar o perfil psicológico do Picanço de Minnesota.

Depois disso, Will se aproxima cada vez mais da captura do assassino, mas outras mortes mais bizarras começam a acontecer enquanto sua terapia com o Dr. Lecter progride. E as coisas terminam se mostrando mais macabras a cada dia as coisas começam a se esvair da mente de Will.
Antipasto
É claro que não dá para examinar essa complexa série sem falar um pouco antes das mídias que lhe antecederam. São elas: “Hannibal – A Origem do Mal” (2007), “Dragão Vermelho” (2002), “Caçador de Assassinos” (1986), “O Silencio dos Inocentes” (1991) e “Hannibal” (2001) cronologicamente. No cinema a mais notória interpretação do vilão foi feita pelo grande ator Anthony Hopkins que chegou a ganhar um Oscar pelo papel em 1992.

O Hannibal de Hopkins era muito assustador e tinha um ar sombrio e inteligente. Hopkins tem um jeito peculiar de deixar as coisas assustadoras. A atuação única dele que aparece no filme “O Ritual” de 2011 me lembrou bastante dos tempos de criança com medo de Hannibal. Ele tinha algo no olhar e uma veia maléfica incontestável. Tanto que os filmes sobre os livros de Thomas Harris ganharam prêmios importantes, mas apenas aqueles que tiveram Anthony Hopkins no elenco e produção.
Existem muitas similaridades na série que remetem aos filmes. Claro que isso se dá a boa fidelidades que ambos possuem com os livros, mesmo com tantos conceitos adaptados. O que me vem logo a memória é a cena de Hannibal e Rinaldo Pazzi em Florença que são muito iguais.

Dentre todas as adaptações cinematográficas a minha favorita é “O Silencio dos Inocentes”, que nos banha em suspense, tensão e adrenalina enquanto demostra o bom gosto do Dr. Lecter (exceto para escolha de carne). O filme “O Dragão Vermelho” dirigido Brett Ratner também é muito bom, mas eu pessoalmente não simpatizo muito com a história de Dolarhyde. Apesar disso, grande parte da série é inspirada em Dragão Vermelho e até apresenta Francis na conclusão da terceira temporada.




O único dos filmes que fica fora do cânone oficial da série é “Caçador de Assassinos” dirigido por Michael Mann. Além de ser considerado por muitos o menos relevante da franquia. Enquanto Dragão Vermelho e O Silencio dos Inocentes encabeçam juntos como os melhores.

Existem muitas diferenças no enredo entre as obras é claro. Algumas mais significativas do que outras, mas na minha opinião ambas são excelentes. Algumas para notar de cara são o caso de Freddie Lounds que na série virou mulher e de que Clarice Starling não apareceu na série. Pelo mens não até agora e muito de sua participação foi atrelada a Will Graham. A relação do Dr. Lecter com Clarice ainda não foi explorada na série, e talvez ainda seja num possível retorno da série. 

Savoureux



Os atores são maravilhosos. A atuação de Mads Mikkelsen é simplesmente soberba. Ele fica muito à vontade no personagem e sua atuação é impecável. Parece que ele quase esquece que está atuando. Eu pessoalmente prefiro muito mais o Hannibal da série do que dos filmes, com todo o respeito ao grande Anthony Hopkins, mas o Hannibal de Mikkelsen é o melhor. Ele entrega um personagem tão profundo e misterioso que quase nunca dá para saber o que ele está pensando. Não podemos mesmo saber quando ele está mentindo ou fingindo, ou quando realmente está demonstrando uma emoção e empatia. O seu ar fino e elegante só contrasta com os momentos em que ele precisa ser cruel e sádico com as suas vítimas, ou mesmo para se defender e manter sua identidade de assassino oculta.

Hugh Dancy como Will Graham é outra joia nessa série. É até difícil descrever a excelência e profundidade desse personagem. Por vezes apático e distante, desligado de tudo, mas em outros momentos tão inteligente e calculista. Instável, sempre em mudança. Remexido por dentro devido as emoções que passou durante os eventos.




Aliás, todos os atores são ótimos, eles entregam um trabalho de primeira, quer sejam de personagens recorrentes, quer sejam figurantes de aparições relâmpago. O roteiro os inclui de forma inteligente, polida e completa. Fica evidente que cada um deles possuem muitas camadas a serem exploradas com personalidades verossímeis, mesmo que não vejamos a totalidade deles em cena, como uma pessoa real que conhecemos a pouco tempo.

O nosso querido Laurence Fishburne tão conhecido por ter interpretado Morpheus na trilogia “Matrix” nunca deixa a desejar com sua centralidade e competência. Tê-lo no elenco fez muito bem para a história. As únicas ressalvas vão para Lara Jean Chorostecki que interpreta a jornalista de tabloide Freddie Lounds assim como para Richard Armitage que interpretou o antagonista Francis Dolarhyde. Eu achei os dois um tanto antipáticos e com pouco apelo. O espectador não consegue se conectar com eles por suas personalidades. Isso tem mais a ver com os personagens em si do que com a performance dos atores, mas mesmo assim são ressalvas.




A trilha sonora é outro deleite. Foram usadas composições de Bach, Beethoven, entre outros renomados compositores de música clássica. Outras músicas eruditas tocadas em instrumentos menos recorrentes como cravo e teremim aparecem as vezes. A música é uma presença de grande estima nessa série. Os sentimentos que ela gera e rege e até as suas vias poderosas sobre o nosso cérebro e mente são enfatizadas. Na primeira temporada, no episódio 7, existe um momento em que isso é mostrado bem claramente. A música entrando em nossos ouvidos e o que ela move em nosso interior.

Outro detalhe é em um dos assassinatos que ocorrem na série, em que um homem tem sua garganta aberta e exposta com um braço de violoncelo colocado em sua boca de forma que as cordas vocais pudessem ser tocadas com o arco do instrumento. Sem dúvida bem evocativo.

Além das músicas clássicas tocadas na série, também é bem comum ouvir aqueles sons incômodos de filmes de terror tocados naquele instrumento chamado Waterphone que faz sons bizarros que dão medo. Tudo para contribuir com o clima pesado e incomodo dos momentos mais tensos dos episódios.

A história é muito bem escrita e construída. Porém, a loucura excêntrica de Anthony Hopkins nos filmes era mais familiar aos livros do que a calma elegante e refinada de Mikkelsen que se parece mais com Hannibal no último livro do que no momento em que Will capturou o assassino conhecido como o Picanço de Minnesota. É claro que adaptações precisar ser feitas para a série funcionar, e o início da relação entre Will e o Dr. Lecter foi explorada de forma diferente na série. O próprio Will é diferente em certos aspectos e essas coisas devem ser levadas em consideração na hora de analisar e criticar.




A adaptação da obra original é uma das mais discrepantes que eu já vi até hoje. Bem diferente do que existe nos livros, mas eu ainda amo essa série por sua qualidade e tudo. É claro que devesse tomar a série e os livros como histórias diferentes. Assim se pode curtir e aproveitar os dois sem ter que ignorar um ou jogar o outro no lixo.

Como eu já apontei acima, Hannibal não é para qualquer pessoa. A TV aberta não está preparada para o horror explicito em Hannibal. E mesmo eu tive um certo receio de postar algumas fotos da série aqui nessa matéria por conta de sua morbidez. No entanto, essa série é muito boa. Em todos os episódios em aprendi alguma coisa nova sobre alguma outra coisa, e sobre os mais diversos assuntos. Desde coisas simples até conceitos filosóficos e psicológicos muito inteligentes.

Existe uma beleza nos diálogos da série. A carga que eles carregam é visível o espectador consegue ver nas entrelinhas o que cada um está querendo realmente dizer em certos diálogos entre os personagens. Alguns deles podem parecer confusos e sem sentido para algumas pessoas. Podem parecer desconexos com metáforas estranhas a primeira vista. Mas, basta um olhar mais atento para chegar ao conceito que eles querem abordar. Claro que nem todos são assim. Esses mais profundos são quase sempre em sessões de consulta psiquiátrica ou entre os personagens mais inteligentes (o que não falta nessa série).




Para pessoas que gostem de mais ação os primeiros episódios são um pouco parados, mas quando você começa a se familiarizar com a trama e os personagens, você começa a se interessar e não consegue desgrudar mais da série. A cada nova descoberta fica cada vez mais evidente o nível de cuidado que se teve para construir o enredo. Eventos lá de traz nos primeiros episódios tem conexão com as revelações dos episódios mais adiante.

Por tantos motivos, essa série é uma das melhores que eu já assisti e deve estar na lista de qualquer um que goste de boas séries com tramas inteligentes e interessantes. Se não assistiu a série Hannibal ainda, corre pra Netflix, pois ela voltou para o catálogo de lá com a terceira temporada incluída. 

Buffet Froid

As imagens a seguir podem ser fortes para algumas pessoas





Uma das coisas mais surpreendentes em Hannibal é o seu apelo visual sem igual. A fotografia é excelente. As cores dos ambientes são quase sempre frias, mas são muito bonitas. Isso é claro serve para depor a favor do clima de suspense e terror psicológico do enredo. As ambientações são feitas em cenários ótimos. Podemos ver os personagens em locais abandonados, florestas, laboratórios forenses do FBI, parques ou mesmo as chiques residências nas quais Hannibal frequenta, mora ou trabalha. Tudo quase sempre tem tons sombrios com cores frias e leves. Mas, é tudo visualmente bem atraente.

Além dos cenários, outra coisa presente na série que possui um grande destaque são as cenas dos crimes. Aqueles assassinatos são expostos de maneiras surreais que quase eleva o ato de matar à arte. Vemos corpos pendurados em ninhos de chifres de veados, ou montados como se fossem um totem. É mórbido, mas ao mesmo tempo fascinante. Tem um toque de sofisticação assim como de extrema crueldade no Modus Operandi do Estripador de Chesapeak que assombra os sonhos dos personagens.




O modo como cada corpo era exposto tinha algum significado intrincado com conceitos psicológicos que eram elucidados pela mente de Will nas cenas dos crimes. Demonstravam os aspectos da mente dos assassinos e os seus motivos para cometer tais atrocidades. Podiam ter coisas a ver com a pessoa morta ou com a personalidade do próprio assassino como o muralista do Olho de Deus que dispôs vários corpos de cores diferentes de modo que quem olhasse de cima veria o formato de um grande olho.




No caso dos assassinatos do Estripador de Chesapeak (que na verdade era o Dr. Lecter), ele geralmente expunha suas vítimas de acordo com o que ele achava delas como no caso do Homem Arvore que era um político corrupto que tinha propostas ruins para o meio ambiente. O estripador o fundiu com as ramas de uma arvore e o colocou num estacionamento que antes era uma área verde desmatada a mando desse politico e substituiu os seus intestinos por flores venenosas, a fim de mostrar que aquela pessoa era venenosa como aquelas flores e este foi o motivo de sua morte. Afinal, Hannibal não gosta de pessoas deselegantes.




As imagens são lindas e se não fosse pelos assassinatos, diria que são obras de arte. É claro que é apenas ficção e ninguém morreu de verdade. A maior parte das vezes deve apenas se tratar de bonecos e não dos atores. O que essas “exposições” querem mostrar na verdade é o quão distorcida a mente humana pode se tornar e o desprezo pela vida que os psicopatas tem.




Outros casos mostram distúrbios mentais poderosos ou condições psicológicas provenientes de doenças que levam as pessoas ao desespero e à loucura. Esses “anjos”
foram feitos por um homem que descobriu ter um tumor no cérebro e que este terminaria por mata-lo. Então, o seu medo da morte foi tão extremo que ele fez esse casal de anjos para velar por seu sono.




O primeiro desafio de Will Graham e do FBI foi prender o Picanço de Minnesota. Ele assim como o estripador de Chesapeak colhia troféus cirúrgicos provavelmente para comer. Ele costumava raptar moças jovens sempre com o mesmo perfil para come-las, mas seu padrão foi descoberto e ele terminou sendo pego. A morte dele mexeu muito com Will e ditou grande parte do enredo dali para frente. Picanço vem a ser um pássaro de poleiro que mata suas presas e as empela em galhos de arvore, retira seus órgãos e os esconde para comer depois assim como o assassino.




bande de goût



Talvez o mais horrível e perturbador de tudo isso seja o fato de que alguns desses assassinos e expositores de corpos levavam algum órgão do cadáver para comer. O canibalismo é tão malvisto em nossa sociedade, mas bizarramente aceito em outras ao longo da história. Em alguns povos antropófagos, acreditava-se que ao comer a carne de um inimigo você adquiriria as habilidades dele assim como sua força. Imagino que os olhos fossem bem cobiçados, pois para um guerreiro, ter a visão como a do seu inimigo deve ser uma grande vantagem.

Para muitas culturas, o que você come termina por incorporar no que você. Aquilo se torna parte de você para sempre, e isso é verdade de certa forma. Você é o que você come. Existiu um estudo para determinar o quão poderosa era essa questão e eu li certa vez uma história de um jovem que sempre comia miolos de boi preparado por sua mãe em casa. O que ocorrera, era que aquele rapaz tinha sempre o mesmo pesadelo. Nele, ele via sua mãe desmembrada e sendo devorada por outras pessoas.

Logo ele começou a se questionar sobre aquilo e percebeu que o sonho não fazia sentido de uma perspectiva humana, mas sim de um bezerro que vira sua mãe, a vaca ser morta e servir de alimento para as pessoas. Será que de alguma forma ele absorveu as memórias do boi e vivenciou em trauma da infância do animal? Sabemos que os animais possuem memoria biológica e que algumas coisas que eles fazem não lhes foram ensinadas pelos pais ou pela observação, mas eles simplesmente sabem. Isso é o que chamamos de memória biológica que são informações que são passadas no DNA a cada geração.

Se realmente absorvermos informação da comida, pelo menos uma pessoa seria boa para se servir na minha opinião: Albert Einstein. Infelizmente ele já faleceu e não poderíamos servi-lo na caçarola. Brincadeiras à parte, existe em Hannibal uma questão psicológica profunda para que ele tenha interesse em comer carne humana.




Psicologicamente falando, existe uma dominação em comer carne humana. Um senso de controle e domínio sobre o outro. Superioridade e talvez até um certo desdém. É difícil imaginar o que leva alguns assassinos psicopatas a comerem partes de suas vítimas. No caso de Hannibal, ele não considera o que faz como canibalismo. Canibalismo implicaria que a pessoa a ser degustada e ele são iguais, todavia, ele só o faz quando considera a pessoa como uma porca. Ou seja, nada mais do que carne. Outro caso o qual eu não entendi muito bem o motivo, é que as vezes ele come pessoas que ele considera serem tão elevadas quanto ele.


Dr. Bedelia Du Maurier tem sua perna esquerda servida a si mesma

A questão com Hannibal é bem mais profunda, pois além de gostar de comer carne humana, ele fez de forma sofisticada e as prepara em deliciosas receitas finas. Além disso, ele não gosta apenas de comer, ele gosta de ver os outros comerem também. A ideia de comer a carne humana é horrenda e desumana. É incomodo demais somente pensar em tal coisa. Logo, eu não jantaria na casa do Dr. Lecter, pois a procedência da carne não é do meu paladar.

Gourmet



Entretanto, nem tudo é tão horrível na cozinha do Dr. Lecter. As receitas que ele faz são de dar agua na boca, pois não estão presas a necessidade de se usar carne humana. A maioria delas são tão requintadas e de tão bom gosto que até abre o apetite. De fato, tem algumas que eu não provaria como uma que se chama sombria, que é um passarinho afogado vivo em armagnac e depois assado. Ele deve ser comido inteiro numa bocada só com ossos, bico e tudo. É um prato pra lá de sádico. Mas, para quem come bife a rolê feito com a carne das costas de alguém, preparar uma sombria não deve ser nada.

É claro que o passarinho em questão está em extinção e é um dos pratos que carregam a fama de tabu e crueldade com os animais. No entanto, existem outros pratos excelentes que realmente parecem ser ótimos. Tais como: Tartare de coração, Ossobuco ao vinho, torta de carne e fígado, carne de Wagyu assada entre outras que parecem ser deliciosas.

A cada maravilhoso prato minuciosamente preparado, o bom gosto do Dr. Lecter fica mais e mais evidente. Ele apresenta tudo de forma tão elegante. Ele também faz comentários filosóficos a respeito dos pratos que prepara e do ato de se alimentar em si. Ou comentários sarcásticos de como os “coelhos” deviam ter corrido mais rápido para não virarem o jantar.




Com certeza nos instiga a tentar elevar a qualidade da comida que comemos, sem a carne humana, é claro. Segundo Hannibal, ele toma muito cuidado com o que ele come, por isso insiste em preparar a própria comida. O valor nutricional é importante, claro e o sabor ainda mais.  Deguste com moderação.

Tirando a parte mórbida, é muito bacana ver que a cada episódio vemos um prato diferente em cena. A primeira temporada apresentou mais pratos franceses, a segunda trouxe a culinária japonesa e a terceira vimos a excelente comida italiana. E isso pode ser notado bem nos nomes dos episódios de cada temporada. E mesmo com os nossos semelhantes sendo servidos, eles todos dão água na boca.




Para causar esse efeito nos espectadores, os produtores convidaram dois grandes nomes para auxílio e consultoria sobre os pratos servidos por Hannibal. O primeiro foi o renomado chef italiano José Andrés que possui vários restaurantes ao redor dos Estados Unidos e também Janice Poon que é uma Food Stylist. Ela faz a apresentação tanto dos pratos quanto da mesa e deixou tudo muito bonito e saboroso de se ver.

Claro que quase ninguém além de Mads Mikkelsen realmente come durante as filmagens, pois os pratos e ornamentos são só para as cenas. O que realmente deve ser uma pena. Além disso, as tomadas em que Hannibal utiliza carne humana em suas pecaminosas receitas é na verdade carne de porco, por ela ser muito parecida com a nossa e além disso os atores podem comer de verdade.




Dessert



Uma coisa sem dúvida presente em Hannibal são os temas profundamente enraizados em psicologia. Os motivos de Will ver um veado em sua imaginação por exemplo que pode estar sujeito a tantas interpretações diferentes, mostra o cuidado ao elaborar os elementos da série nesse sentido.

O veado é um símbolo divino ligado a vida e as arvores. É um mediador entre a luz, o sol e o homem. É um animal silencioso e gentil na maior parte do tempo. Simbolizam também liberdade e abundancia reverenciados em muitas culturas. Na série, Garret Jacob Hobbs via suas vítimas como caça, de uma certa forma. Por isso ele as honrava e aproveitava cada parte de seus corpos, ou como ele pensava, seria apenas assassinato.




Depois de encontrar o corpo de Cassie Boyle empalada numa cabeça de veado empalhada com corvos em cima, Will passou a associar essa figura com o imitador, um cervo negro com penas de corvo. O imitador também era o estripador de Chesapeak, que no fim era Hannibal. Por isso seu subconsciente estava lhe dizendo algo do qual ele estava em negação, de que na verdade ele sabia quem na verdade era o verdadeiro responsável por aquelas mortes.

Depois disso, Will passou a ver o que chamamos de Wendigo. Uma figura perturbadora de um homem magro com chifres de veado totalmente negro, não etnicamente, mas negro como breu. O veado na série também é representado como uma conexão entre Will e Hannibal. É por isso que vemos ele ferido no episódio Mizumono, para voltar depois "remendada" em Primavera, quando Will e Hannibal estão voltando a se conectar. Vemos alguns Easter Eggs como a estátua de um veado no consultório de Hannibal, com a qual ele mata Thobias, diga-se.




O Wendigo é um mostro da mitologia nativo-americana que tinha a dieta de carne humana. Segundo a Wikipédia, "O Wendigo é formado a partir de um humano qualquer, que passou muita fome durante um inverno rigoroso, e para se alimentar, comeu seus próprios companheiros. Após perpetuar atos canibais por muito tempo, acaba se tornando este monstro e ganha muitos atributos para caçar e se alimentar". Bem familiar com Hannibal, não acha?

A forte influência de Hannibal sobre Will e sua persuasão sobre ele vão fazendo Will se enxergar cada vez mais parecido com Hannibal e em sua imaginação começam a surgir chifres nele, como se ele estivesse também se transformando em um Wendigo. Isso é visto principalmente quando Will toma decisões que antes ele só atribuiria à Hannibal, ou ao estripador de Chesapeak.




O trauma de Will com tudo o que ele passou com o caso do Picanço de Minnesota o traumatizou profundamente e começou a “transformá-lo” interiormente. No final da segunda temporada, vemos o último suspiro do veado que Will via e isso simboliza o termino dessa relação com Hannibal e das similaridades entre eles. Will agora se desvencilhou da imagem de monstro construída sobre si mesmo e partiu em busca do verdadeiro monstro como fizera no início, antes de estar conectado a ele.




Ainda sobre essa questão psicológica, fica muito difícil determinar como funcionam as mentes de Will e Hannibal. Eles são muito diferentes, mas igualmente similares em outros aspectos. Não é possível atribuir certos problemas mentais a eles, uma vez que eles não apresentam todos os sintomas comuns desses distúrbios.

A curiosidade de Hannibal em empurrar certas decisões aos seus pacientes mostra o interesse dele no que acontecerá a seguir. Ele os influencia apenas com a persuasão na maior parte das vezes. Ele muitas vezes parece não demonstrar empatia alguma. Não possui também remorso das coisas que faz, mas em absoluto não se pode chama-lo de louco, ao menos não no sentido psiquiátrico.
Ele é atraído por áreas de medicina e psiquiatria, pois tais conferem poder sobre as pessoas. É difícil determinar se algo em sua infância o levou a ser como ele é. Ou se isso se deve ao fato de sua mente ser peculiar por natureza, sem ter tido influência de agentes externos para fazer ele ver o mundo daquela forma.

O caso de Will é tão enigmático quanto o de Hannibal. Seu distúrbio de empatia faz com ele consiga pensar como os assassinos que procura. Aliás, ele consegue empatizar com qualquer pessoa. Ele é o extremo oposto de Hannibal nesse sentido, que pode assistir uma pessoa agonizar e morrer sem fazer absolutamente nada apenas para poder ter a chance de ver o processo de morte acontecer. E caso ajude a pessoa, não é por motivos de moral, nobreza ou por ter cedido ao instinto humano de responder a vulnerabilidade do outro. Na verdade, é difícil determinar o porquê ele faz as coisas.  Sempre vai haver um motivo muito diferente do que se imagina.

Hannibal parece não enxergar algumas pessoas nada mais como material. Que seja para a arte, ou para a culinária. Durante sua juventude em Florença, ele assassinou um casal e dispôs seus corpos na caçamba de uma caminhonete exatamente como o quadro Primavera de Sandro Botticelli. Ele ia até a galeria Uffizi todos os dias tentar reproduzir em desenho o quadro, mas ao que parece nunca ficou satisfeito, até que o representou em carne.



Primavera de Botticelli e a versão em carne de Il Monstro



Durante aquela época, ele ficou conhecido como Il Monstro Di Firenze (O Monstro de Florença) por seus crimes lá. O número de pessoas que ele matou é desconhecido, mas com certeza é exorbitante. No entanto, ele jamais demonstrou qualquer tipo de culpa. Sua inteligência e seu bom gosto fazem com que ele se torne acima de suspeitas. Ele sempre usa de suas manipulações para fazer os esforços da polícia se distanciarem dele.



Registro da Polícia italiana de Il Monstro

Ao contrário da repulsa e pavor que Hannibal provoca, Will Graham possui uma personalidade banhada em sutilezas que ele mesmo não compreende completamente. Quando ele entra na mente de uma pessoa, é possível que parte do perfil que ele traçou fique impregnado em seu subconsciente. O que ele sente é empatia pura. É claro que os dons de Will o ajudam a ver as coisas com clareza, mas também podem prejudica-lo muito se não houver um cuidado delicado da parte dele.

Ele faz um mergulho mais profundo com os personagens através de um mundo insano de percepções, questionamentos filosóficos e conflitos de personalidade em poucos instantes. Com apenas uma análise rápida ele pode chegar ao profundo amago de uma mente sem a necessidade da presença da pessoa ao menos. É dessa condição tão instável e fascinante da mente única de Will que Hannibal se interessa. O modo como ele vê as coisas que é tão diferente do próprio.



Will é sempre visto como de alguém de certa forma estranho. Sempre evita olhar nos olhos das pessoas e procura se isolar e não ter muitos contatos sociais. A princípio isso pode até parecer sintomas de autismo, mas na verdade é por causa de sua empatia pura.

Ele pode se colocar no lugar dos outros e sentir tudo o que eles sentem. Ele se sente angustiado com as coisas que percebe. Sua empatia se mostra disfuncional quando existe uma interação dele com o seu oposto, a psicopatia. Muitas vezes é desconfortável para Will entrar nas mentes de criminosos, pois pensar como alguém que mata pessoas e ter isso em sua mente não é mesmo saudável.

Com isso, a linha da moral, do que separa o certo do errado fica cada vez mais fina mente de Will e ele se torna cada vez mais vulnerável a sua própria percepção. Claro que a encefalite que ele teve e os tratamentos heterodoxos do Dr. Lecter contribuíram para desestabilizar a mente de Graham. A personalidade metamórfica de Will está quase sempre desprendida de conceitos que ele ignora. Por isso, se o Dr, Lecter tivesse tido êxito em fazer Will ver o mundo como ele, ou seja, empatizar totalmente com ele, Will teria se tornado ainda mais sádico do que Hannibal.

A coisa que mais fascina do personagem de Will Graham além de sua mente brilhante é a sua imaginação. Ele pode se desligar totalmente da realidade e visualizar qualquer coisa. Constrói imagens perfeitas com as quais pode interagir e sua capacidade completa de imaginação o ajuda na hora de solucionar os crimes. Diria que sua imaginação é o colaborador perfeito para seu distúrbio de empatia, pois os dois se completam e se ajudam de forma perfeita.

No final, como é dito pelo Dr. Chilton na série: “Ainda não existe um nome na psicanálise para o que é o Senhor Will Graham. ”. O mesmo é dito a respeito de Hannibal quando ele é preso. Estes são com certeza dois dos personagens mais intrigantes e interessantes já criados.

Grand Finale




O diretor Bryan Fuller publicou em seu Twitter que as negociações para a quarta temporada de Hannibal estão sendo feitas. Bryan afirmou que as gravações da quarta temporada só poderiam começar a partir de agosto de 2018, dois anos depois do termino da terceira temporada. Porém, a produtora Martha De Laurentiis

Os eventos da série devem ter continuidade direta com os ocorridos na terceira temporada do show e podem ser adaptados do livro “O Silencio dos Inocentes”.
Com certeza é uma boa notícia para os fãs que viram a série ser cancelada. Isso se deu por conta da audiência no canal NBC onde era transmitida, e não por sua qualidade, uma vez que foi muito aclamada pela crítica e público.

Fuller disse ainda que pretende fazer com que a série passe a ser irregular. Quer dizer, seriam lançadas temporadas ano sim, ano não. Seja como for, esperamos muito que a série retorne para podermos acompanhar os deliciosos pratos preparados pelo Dr. Lecter e comer sem culpa. 


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Escritor: Thiago de França
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