Reign | Reinado

by - agosto 27, 2018

"Governar significa sujar as mãos de sangue"



A Ascenção de Mary, Rainha da Escócia  

Eis aqui uma das melhores séries de ficção histórica da atualidade. Reign conta a história de Mary, a rainha dos escoceses e da sua saída do convento onde foi criada desde pequena até a corte da França onde deveria se casar com o jovem príncipe Francis, herdeiro direto do trono. Reign estreou em outubro de 2013 exibida pela CW além de ter entrado no catálogo da Netflix 
Muitas intrigas, mistérios e ameaças obscuras dificultam a trajetória de Mary até o poder e o socorro para seu povo do outro lado do Mar, na Escócia, durante sua estadia na corte francesa. A série foi baseada na história real da rainha da Escócia, Maria Stuart que reinou de 14 de Dezembro de 1542 a 24 de Julho de 1567. É claro que a série conta com elementos próprios de licença poética para mudar algumas coisas da história real.  
Essa foi uma série empolgante cheia de mistérios que trouxe uma surpresa a cada episódio. Posso dar para Reign o título de destruidora de corações para por conta do destino de um personagem principal que realmente foi uma surpresa, mesmo para quem conhece os fatos históricos verídicos. E isso trouxe muita tristeza, pois eu não esperava mesmo que aquilo fosse acontecer de fato.  


O elenco é muito bom e atuação não deixa a desejar. Em principal da bela protagonista Adelaide Kane, que entrega uma Rainha Mary forte e decidida, mas ao mesmo tempo tão frágil e doce. Sempre tentando ser justa e fazer o melhor para seu povo tanto quanto possível. A atuação de Magan Follows como Catherine de Médici é uma das melhores. Em muitos momentos eu a odiei, mas em outros a considerei muito. É uma personagem muito interessante. Ao contrário dela, Francis (Toby Regbo) é bastante tempestuoso no início, sendo até um pouco antipático, se tornando mais sensato e maduro conforme a história progride. Mas, acredito que ele consegue se redimir na terceira temporada. Já a atuação da rainha Elisabeth (Rachel Skarsten) tem seus pontos altos, mas o sotaque é um tanto forçado e ela não consegue cativar na maior parte do tempo, e isso deixou ela um pouco desinteressante. Diferente de Mary, não se consegue criar uma ligação com ela, mesmo que ela tenha momentos tristes ou difíceis. Não existe empatia para com ela. Ela aparenta ser rainha de si mesma e por isso parece ser solitária, ao contrário de Mary que muitas vezes pensou primeiro no seu povo e passou maus bocados por conta disso.  


O figurino é muito exuberante e sofisticado tendo ficado por conta da designer de moda Meredith Markworth Pollack que trouxe lindos vestidos além das roupas reais dos homens que eu achei maneiras em demasia assim como as roupas de todos os personagens que contribuíram para deixar a série com um ar ainda mais fiel ao Século proposto. Eles são de certa forma uma mistura de pontos históricos além de uma mistura do medieval com o moderno. Combinação interessante, que poderia ter sido desastrosa, mas os figurinos foram muito felizes.  
Reign é uma série muito boa que fala sobre amor, dever e honra. Poucas foram tão bem-sucedidas em expor esses sentimentos e aloca-los num contexto de época em contraste com outros sentimentos totalmente opostos como luxuria, ambição e egoísmo. Existia todo um contexto naquela época, onde as moças se casavam com quem os pais escolhessem e não por amor. Reis arranjavam casamentos visando alianças políticas. Além temas como castidade, machismo, religiosidade, status e até mesmo sobrevivência deviam governar a mente das pessoas daquelas épocas. Tudo isso devia dificultar a vida de um casal apaixonado, isso sem falar das pessoas com o peso e a obrigação de uma coroa sobre a cabeça.  


A relação de Mary e Francis é primorosa de se assistir. O perdão que eles geram aos erros um do outro pode até de primeira vista parecer irreal, mas que atitude deveria ser tomada diante de situações tão difíceis, depois de passar por tantos percalços pelo caminho? Não existe resposta certa em meio a tantas dificuldades. A lealdade de Bach, a amizade das damas de companhia de Mary e até o cuidado exagerado de Catherine por sua família mostram na verdade como as pessoas não são tão simples de se definir. O filme “50 Tons de Cinza” (do qual eu não sou grande fã), tem esse nome porque o amor não é preto no branco, mas tem muitas nuanças entre isso. Dificuldades ao longo da vida são o que definem onde fica o limite do que sentimos por aqueles que prezamos. E é isso que que torna Reign tão ótima. As questões políticas, históricas, as tramas e intrigas ficam em segundo plano. Afinal, essa é uma série para jovens, e jovens ligam mesmo para a radicalidade terrível dos sentimentos.  


O último episódio é o mais controverso, pois dá a entender que a série foi terminada as pressas deixando muitas perguntas, personagens sem finais conclusivos, e partes do enredo sem resolução. Fora que alguns dos vilões mais pedantes e sem noção terminaram relativamente bem em relação aos mocinhos. As últimas cenas são totalmente fucking destroyer máster full tristes e bonitas com um reencontro que quase tirou lágrimas (quase). Pelo que se sabe a série realmente foi cancelada e não se sabe se a produção da mesma pretendia ter dado continuidade e teve que terminar naquele ponto.  
A trilha sonora é outra coisa que merece a coroa. Além do Soundtrack ser excelente, diverso e bem construído, existem momentos nas festas e bailes na corte onde as orquestras tocam músicas modernas como Chandelier da cantora Sia como se fossem de época, o que faz serem reconhecidas na hora, dando um ar divertido as cenas. Os cenários são bem ambientados com locações fidedignas além da fotografia ser também muito bonita 


Confesso que fiquei cozinhando essa série na minha lista para assistir por um tempo, por achar que seria chata e desinteressante e pelo medo que fosse muito similar a outras com a mesma premissa como “The Crown” ou “The Tudors. No entanto para minha surpresa, não me arrependi em nada em ter começado a assistir, em ressalva talvez pela sofrência de alguns fatos do enredo. Como uma certa cena da terceira temporada que se passa num barquinho no Mar ao som de “The Highest Tide” do The Wealthy West. Eu agora que terminei de assistir sinto falta dos personagens e do enredo. Além do lindo sorriso da Rainha Catherine (Megan Follows). A série foi iniciada em 2013 e infelizmente a quinta temporada foi cancelada, terminando então com quatro temporadas. 
 Alguns pontos não são tão agradáveis, como o enfretamento direto entre Mary e Elisabeth que parece nunca chegar e o primeiro ato da terceira temporada é bem pesado, e deixa uma sensação estranha, mas não perdura, e tudo volta ao seu ritmo. Também existem certos fatos que parecem promissores a princípio, mas terminam não tendo mais destaque algum. Como a história de Clarissa que some prometendo uma reviravolta para os personagens principais, mas então tem um final sem muita importância.  
Eu gostaria de deixar aqui uma lista com as diferenças entre a série e a verdadeira história da rainha Mary, mas isso traria muitos spoilers sem dúvidas, então pretendo fazer isso num post especial sobre essas diferenças, se for possível.  


A quem ache que o número de alterações em relação a história original é um problema. Não para mim, já que conheço o conceito de licença poética e ficção histórica. Ninguém acha irrisório as HQs da DC Comics em que o Superman enfrenta os nazistas, pois sabemos qual é a história original, não é mesmo? Histórias assim são apenas baseadas naqueles fatos e devem ser consideradas como “Shows”, pois tem o intuito de entretenimento, e não o conhecimento histórico apenas. Para quem quiser acompanhar uma história mais fiel sobre a rainha Mary, eu recomendo Mary Stuart a Rainha da Escócia” de 1971 que tem roteiro escrito por John Hale e dirigido por Charles Jarrot.


Apesar de não ter simpatizado muito com a Rainha Elisabeth, eu confesso que o que eu gostaria de ter visto na série, era uma união dela com Mary contra algum outro inimigo. Teria sido incrível ver elas duas unidas. Imagine então como ficou palpitante o meu coração quando Mary enviou uma carta para Elisabeth lhe pedindo ajuda em uma certa coisa. Tudo indicava que isso iria acontecer, mas era apenas outro jeito maléfico de mexer com o meu emocional reprisando os feitos da terceira temporada. Quem escreveu o roteiro de Reign não tem coração simplesmente.  


Outro personagem bem bacana é Nostradamus, o profeta, conselheiro e amigo pessoal de Catherine. Ele é muito importante e sua participação tem influência direta nos acontecimentos da série. Foi interpretado por Rossif Sutherland. Nostradamus foi um apotecário e medico da renascença praticante de alquimia. Era conhecido por supostamente conseguir ver o futuro através de visões. Surpreendentemente ao que parece algumas de suas previsões aconteceram. O personagem deixou de aparecer depois do primeiro arco de terceira temporada.  
Além de Nostradamus, algumas outras figuras históricas aparecem como menções ou referencias. Como, a pintura da Monalisa que aparece como um quadro desconhecido de “um tal de Da Vinci”, o Rei Henrique VIII da Inglaterra, Ana Bolena entre outros.


A série ainda mostrou cenas bem marcantes e difíceis sobre temas como paganismo, estupro e a rivalidade implícita da Escócia com a Inglaterra e todo o contesto governamental da monarquia naquele período que gerava uma tensão de guerras entre fronteiras não só entre essas duas nações como também da França, Espanha e a Europa em si. Isso é muito bem destacado na série e até se torna o centro de grande parte do enredo como era de se esperar. Outra coisa que não pode ficar de fora é o tema de abertura “Scotland” do The Lumiers que não é muito viciante e sempre toca em momentos de decisão de Mary ou em transições de fatos ou mesmo quando as temporadas passam de uma para a outra trazendo à tona um sentimento de esperança e determinação para as cenas. Com certeza se tornou bem importante para a composição das tomadas. Então damos adeus a Reign que conquistou muitos fãs aqui no Brasil o que garantiu a visita dos atores em nosso reino. Esperamos mais séries boas como essa.  


Curiosidades 
  • Todas as damas de companhia de Mary também se chamavam Mary. Isso foi alterado na série para não causar confusão.  
  • A Rainha Mary na verdade era ruiva e bem alta. Tinha 1,80m.  
  • O Rei Hanry teve 3 filhos bastardos, nenhum deles era Sabastian 
  • Claude Valois tinha apenas 11 anos durante o reinado do Rei Francis.  
  • O Castelo que vemos na série como corte da França na verdade fica na Irlanda. Seu nome é Ashford Castle 
  • É possível se hospedar no Castelo Ashford hoje em dia. 
  • Alguns nomes dos personagens são modernos com Aylee, Lola ou Bash 
  • A série teve uma recepção mista por parte da crítica especializada, no entanto foi mais favorável tendo atingido a nota de 7.9 por parte do público que gostou da série em sua maioria.  
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Escritor: Thiago de França

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